terça-feira, 13 de março de 2012

Arquitetura Moderna Brasileira - Athos Bulcão

A conexão entre arte e arquitetura através do emprego do azulejo é tratada neste capítulo. Um artista que soube fazer isso de maneira espetacular foi Athos Bulcão.
Sua biografia, sua trajetória artística e técnica são apresentadas em meio a alegria que ele trouxe ao concreto de Brasilia através de seu trabalho.

4 ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA

De acordo com Wanderley & Sichieri (2005, p.16), durante o século XX alguns arquitetos e artistas plásticos de renome nacional tiveram papel significante na história do azulejo no Brasil. Na arquitetura moderna, o arquiteto Le Corbusier preconizou o emprego dos azulejos. Com a vinda dele ao Brasil, vários arquitetos adotaram o uso de azulejos em suas obras arquitetônicas e passaram a valorizar a cultura local. Arquitetos como Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Jorge Moreira e Ernani Vasconcelos reinventaram o azulejo, visto que, além de elemento funcional começaram a utilizar este material como suporte a novas expressões plásticas criando uma conexão entre arquitetura e arte.

Imagem 16 – Azulejo Le Corbusier

Fonte: http://www.costa-brites.com/?p=FF16&c=1&cat_1=1&id=151


Portinari também teve sua contribuição. É considerada sua obra mais importante, no campo do azulejo, o painel que criou para a igreja São Francisco de Assis no bairro da Pampulha, em Belo Horizonte, por encomenda de Oscar Niemeyer em 1943/44.


Imagem 17 - Painel da Igreja São Francisco de Assis – Belo Horizonte


            Ainda para Wanderley & Sichieri (2005, p.19), no final dos anos 50, o azulejo assume papel fundamental. Os arquitetos cariocas desenvolviam então, azulejos em painéis, concebidos como obras de arte. Entre eles, Niemeyer e Reidy, empregavam painéis de azulejos em algumas paredes onde havia uma certa falta de função estrutural, concebendo painéis como grandes afrescos.


O artista plástico Athos Bulcão soube utilizar o azulejo em seus painéis artísticos, fazendo essa integração entre a arte e a arquitetura de maneira inteligente, grandiosa e com grande maestria. Vários são os trabalhos de Athos em parceria com os arquitetos Oscar Niemeyer e João Figueiras Lima, o Lelé.


4.1 Biografia de Athos Bulcão

Imagem 18 – Athos Bulcão





Pintor, escultor, decorador, desenhista e professor. De acordo com o site Biografias - Vida e obra (http://www.biografia.inf.br/athos-bulcao-artista-plastico.html)


          Athos Bulcão decidiu dedicar-se às artes plásticas em 1939, quando abandonou a Faculdade de Medicina que estava cursando.


Nasceu no Rio de Janeiro, em 1918 e passou sua infância em Teresópolis. Perdeu a mãe, Maria Antonieta da Fonseca Bulcão, de enfisema pulmonar antes dos cinco anos e foi criado por seu pai, Fortunato Bulcão, amigo e sócio de Monteiro Lobato, com um irmão, e duas irmãs.


Na família havia um interesse pela arte, pois, frequentava teatro, salões de artes, espetáculos e ópera. Desde criança ensaiava desenhos, contudo, chegou às artes graças a uma série de coincidências.


Athos foi amigo de alguns dos mais importantes artistas brasileiros modernos, os maiores responsáveis por sua formação. Carlos Scliar, Jorge Amado, Pancetti, Enrico Bianco - que o apresentou a Burle Marx -, Milton Dacosta, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Ceschiatti, Manuel Bandeira entre outros.


Ainda, conforme o site Biografias - Vida e obra (http://www.biografia.inf.br/athos-bulcao-artista-plastico.html), aos 21 anos, os amigos o apresentaram a Portinari, com quem trabalhou como assistente no Mural de São Francisco de Assis na Pampulha. Conforme Fundação Athos Bulcão, antes de pintar, planejava as cores que usaria e acreditava que o artista tem de saber o que quer fazer. Ele não acreditava em inspiração, mas, em talento e muito trabalho.


Em 1944, a convite de Niemeyer, inaugurou a nova sede do Instituto de Arquitetos do Brasil, no Rio de Janeiro, com uma exposição de desenhos.


Athos começou a trabalhar com azulejos na década de 50 por encomenda de Niemeyer. Um dos primeiros trabalhos foi o painel para o Hospital da Lagoa em 1955, no Rio de Janeiro.

Imagem 19 - Hospital da Lagoa – Rio de Janeiro





           Em 1957, Athos foi morar em Brasília a convite de Oscar Niemeyer, para realizar uma série de colaborações em projetos de integração arte/arquitetura. Foram mais de 200 obras que deixaram um colorido em meio ao concreto.

Obras como o Palácio da Alvorada, Brasília Palace Hotel (Imagem 20), Câmara dos Deputados, Senado Federal, Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, Palácio Itamaraty, Teatro Nacional, Hospital Sara Kubitschek, Igreja Episcopal de Brasília, Universidade de Brasília, Aeroporto, Banco do Brasil e Catedral de Brasília (Imagem 21).

 
Imagem 20 – Brasília Palace Hotel




Imagem 21 – Catedral - Brasília



            A partir de 1962, Athos firma outra grande parceria para obras de arte/arquitetura com o arquiteto Lelé. Com Lelé, Athos criou vários relevos, divisórias e painéis no Edifício da Disbrave, em Brasília, no Hospital de Taguatinga (DF), nas secretarias do Tribunal de Contas da União, em algumas cidades brasileiras e nos hospitais da Rede Sarah.



Imagem 22 - Muro Vazado, Divisória e Relevo Rede Sarah





               A trajetória artística de Athos Bulcão é especialmente consagrada ao público em geral. Lembrando a obra de Resende, estudada ao longo do curso, o público acidentalmente se depara com as obras dele quando está indo para o trabalho, para a escola ou simplesmente passeando. Suas obras se incorporam à paisagem e estão acessíveis a qualquer cidadão.


Além de azulejos e painéis fazem parte da arte de Athos Bulcão pinturas, desenhos, objetos, máscaras, fotomontagens, cenários para teatro e artes gráficas.



Imagem 23 - Athos Bulcão no ateliê




Imagem 24 - Máscara Gelatinose e Verde, 1975


           
           Athos Bulcão estava em tratamento contra o Mal de Parkinson desde 1991. Faleceu em 2008, aos 90 anos.


4.2 Técnica


Conforme, Wanderley & Sichieri (2005, p.20):


Os painéis geométricos geralmente são constituídos por módulos de formas fechadas, lineares ou circulares, polígonos complexos e coloridos que, às vezes, parecem uma letra ou um logotipo. Curvas e retas, círculos e quadrados que se encaixam e desencaixam num ritmo alucinante e cortado, numa harmonia que seduz o olhar, pois numa desordem e combinação aleatória consegue manter uniformidade e equilíbrio.


Uma das características mais interessantes no trabalho de Athos Bulcão é deixar a critério do operário encarregado a aplicação dos azulejos. Ele cria o desenho dos módulos manda estampar em azulejos, escolhe as cores, e, muitas vezes, entrega a composição do painel ao operário, deixando-o livre as combinações e encaixe.


Segundo Wanderley & Sichieri (2005 apud Francisco, 2001) Athos desenvolveu uma estética moderna do azulejo na arquitetura, usando sempre o geométrico de uma maneira sintética, pesquisando o uso das formas e das cores e seus efeitos nos espaços públicos. O primeiro e único trabalho com simbologia figurativa foi a Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, em 1957, em Brasília, onde criou dois módulos, ambos sobre fundo azul de tonalidades diferentes e contornados por um friso branco, reforçando a ideia do azulejo como módulo. Uma estrela de Belém, na cor preta e uma pomba branca posicionada para baixo. A pomba além de significar o Espírito Santo, faz alusão ao plano piloto de Brasília.


Imagem 25 - Igrejinha Nossa Senhora de Fátima

 



Para os painéis de azulejos, Athos geralmente usa composições de módulos que apresentam várias possibilidades. Na composição dos painéis, Athos usa de um a quatro módulos diferentes e um número pequeno de cores, no máximo cinco, sendo muito comum a presença de duas cores apenas, sempre aproveitando o fundo branco do azulejo (base esmaltada) como uma cor. Trabalha também com negativos e positivos de um mesmo módulo (desenho) como no painel do Hospital da Lagoa ou usa dois módulos e duas cores, como no painel da Fundação Getúlio Vargas (Imagem 26) e muitas vezes usa o azulejo liso sem desenho, como um módulo.


Imagem 26 – Fundação Getúlio Vargas


             
            A intenção de Athos é sempre fazer uma conexão da composição do painel com o ambiente em que está sendo inserido, sempre no intuito de dar uma sensação agradável de alegria para os usuários. O painel interage com o ambiente dando um sentido ao espaço a exemplo do Mercado das Flores (Imagem 27).


Imagem 27 – Mercado das Flores







 “Artista eu era. Pioneiro eu fiz-me. Devo a Brasília esse sofrido privilégio. Realmente um privilégio: ser pioneiro. Dureza que gera espírito. Um prêmio moral".
Athos Bulcão

 
O que mais me admira na arte de Athos Bulcão é a simplicidade e limpeza apresentadas. Além, da maneira despretenciosa com que o azulejo era empregado nos ambientes pois independiam de uma forma correta para compor o todo.
Eu recomendo o site da Fundação Athos Bulcão (http://fundathos.org.br/athos-bulcao) onde estão imagens de todos os trabalhos. Vale a pena dar uma olhada.


Ao contrário de Athos Bulcão,  Beatriz Milhazes com seu trabalho colorido de camadas e camadas sobrepostas será apresentada no próximo capítulo.

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