segunda-feira, 12 de março de 2012

História da Azulejaria

Este capítulo trata da História da Azulejaria a partir do século XV até o século XX. As técnicas utilizadas para a produção de azulejos também são mencionadas. E ainda a utilização deste elemento na arquitetura brasileira.



3 HISTÓRIA DA AZULEJARIA



            Para o site (http://pnsintra.imc-ip.pt/pt-PT/palacio/azulejos/ContentDetail.aspx) do Palácio Nacional de Sintra a azulejaria é o ramo da cerâmica cujos produtos se destinam à decoração e cuja aplicação é, especificamente, o revestimento de pisos e paredes.


            Cavalcanti e Cruz (2002, p.14) consideram o azulejo (al zuleyche, do árabe significa pedra lisa e polida) como um elemento decorativo desde os tempos mais remotos da civilização.


Sobre uma pequena placa de barro com as formas mais variadas, mas em princípio quadradas, cozida ao calor indireto do fogo, pintava-se, com terras coloridas dissolvidas em água, algumas figuras interessantes retratando a realidade local. Mais tarde, a placa recebeu uma aplicação de um vidrado tornando-se brilhante, transformou-se em uma peça rica em efeitos de luz e cor.


Conforme mencionado no capítulo anterior, na arte islâmica já se via a aplicação dos azulejos na arquitetura. Do oriente, ele foi trazido, pelos árabes, para a Itália, Espanha e na sequencia para Portugal. Os portugueses não inventaram o azulejo, mas o usaram de forma original há cinco séculos. Apesar de ao longo da sua história ter sofrido inúmeras influências, em Portugal características específicas foram desenvolvidas entre as quais se destaca a riqueza cromática, a monumentalidade, o sentido cenográfico e a integração na arquitetura.





3.1 A arte do azulejo do século XV





            De acordo com Almasqué e Veloso (http://www.oazulejo.net/oazulejo_frame.


html), até a segunda metade do século XV, os artífices andaluzes produziram grandes placas de barro cobertas de vidrado colorido uniforme que, uma vez cozidas, cortavam em fragmentos geométricos que eram depois recombinados formando laçarias geométricas (Imagem 6). Conhecido pelo nome de alicatado, pois, envolvia a utilização de um alicate, este processo tornou-se delicado, moroso e difícil além de exigir que o artífice acompanhasse a encomenda até ao local da sua aplicação. A impossibilidade de exportar o produto já acabado constituía uma limitação importante.


Imagem 6 – Laçaria geométrica




3.2 A arte do azulejo do século XVI

            Após esse período, ou seja, no final do século XVI surge uma transformação técnica que leva ao aparecimento do azulejo de hoje – uma placa de barro quadrangular com uma face vidrada lisa ou decorada com desenhos coloridos. Este aperfeiçoamento permitiu um aumento na produção, uma padronização e, consequentemente, um custo mais baixo.


            Contudo, a separação das cores na superfície vidrada causava problemas porque as substâncias utilizadas se misturavam durante a cozedura. Para evitar este transtorno utilizava-se, como isolante, uma barreira gordurosa constituída por óleo de linhaça e manganês aplicados a pincel. Após a cozedura, se transformavam em traços negros de tom metálico conhecido como corda-seca.


            Pouco tempo depois aparece um processo em que a separação das cores era feita por arestas. Daí o nome azulejaria de arestas. Isto é, utilizavam-se moldes de madeira com sulcos formando desenhos, aplicados sob pressão à placa de argila ainda úmida e com isso deixavam arestas compartimentando as áreas a preencher com o esmalte. A aresta ou cuenca só passou a ser utilizada isoladamente depois da introdução de outra inovação – a fritagem que consistia no aquecimento dos vidrados a altas temperaturas antes de serem aplicados.


            Ainda para Almasqué e Veloso (http://www.oazulejo.net/oazulejo_frame.html), azulejos de corda seca e de aresta ficaram conhecidos com o nome de mudejares, hispano-árabes ou hispano-mouriscos. Durante o século XVI foram importados em grande quantidade para Portugal e aplicados em igrejas e palácios. Os desenhos dos azulejos hispano-árabes mantinham a influência das decorações árabes e reproduziam as laçarias e os esquemas geométricos. No final do século XVI surge outro avanço técnico. Devido à utilização do esmalte estanífero branco e dos pigmentos metálicos, foi possível pintar diretamente sobre o vidrado. Esta nova técnica conhecida pelo nome de majólica ou maiólica (provavelmente derivado da palavra Maiorca, porto de onde os azulejos eram importados) foi trazida para Portugal por Francisco Niculoso resultando uma facilidade na produção de desenhos mais complexos.


Em Portugal, um local que reúne todos os tipos de azulejos descritos até então, é o Palácio Nacional de Sintra. Acredita-se que foi necessário um artífice especializado para executar um trabalho de tamanha obra-prima.


            O azulejo alicatado foi utilizado no pavimento cerâmico da capela dos Paços de Sintra.


Imagem 7 – Azulejo alicatado


            A área pavimentar do quarto de Dom Afonso VI está revestida com azulejos, cobrindo cerca de 20 metros quadrados. Uma combinação de azulejos de vários formatos e dimensões ostentando desenhos de padronagem mourisca.


Imagem 8 – Azulejo de patronagem mourisca



A Sala das Sereias tem uma decoração inusitada. São ladrilhos cerâmicos esgrafitados, cuja ornamentação de arabescos é obtida pelo processo de abrir a buril o vidrado do azulejo até ao suporte de barro, o qual aparece na sua cor natural ou avivado com cal ou betume branco. Neste exemplo é possível verificar a união entre o azulejo e o arabesco.


Imagem 9 – Ornamentação de arabescos


            Azulejos de corda-seca são possíveis de identificar na Sala de Dom Sebastião, bem como, na Sala das Pegas.


Imagem 10 – Azulejos de corda seca



            Azulejos de aresta são vistos na Capela palatina.



Imagem 11 – Azulejos de aresta

            Os azulejos relevados tem na sua técnica de fabrico o barro moldado em formas e traz como característica um naturalismo rebuscado.



Imagem 12 – Azulejos relevados

            Em decorrência de algumas recomendações do Concílio de Trento, foi abolido nas igrejas tudo quanto lembrasse a arte islâmica ocorrendo assim, uma proliferação de motivos ornamentais italo-flamengos. Um considerável exemplo deste período é o revestimento em azulejos da Capela de S. Roque, em Lisboa, pintados por Francisco de Matos em 1584, afirmam Almasqué e Veloso (http://www.oazulejo.net/oazulejo_frame.html).


Os azulejos foram também utilizados nas igrejas para destacar o púlpito e assim prender a atenção do ouvinte.


            No final do século XVI, Portugal cai sob o domínio dos Filipes e devido às dificuldades econômicas o acesso às tapeçarias, aos vitrais e aos mármores, conduziram ao aproveitamento máximo do azulejo com material decorativo. De acordo com Cavalcanti e Cruz (2002, p.15), neste momento, aparecem numerosos exemplares de composições geométricas que vão desde os enxadrezados (combinações em xadrez) até formas mais complexas como os azulejos enxaquetados ou de caixilho.



3.3 A arte do azulejo do século XVII



Na sequência destes exemplares, cria-se a composição chamada de tapetes, do século XVII, formados pela repetição de padrões policromos inspirados nos desenhos das tapeçarias. Estes padrões resultavam de combinações de um número variável de azulejos, formando quadrados de quatro, dezesseis, trinta e seis, ou mais elementos, segundo Almasqué e Veloso (http://www.oazulejo.net/oazulejo_frame.html). Os vários tapetes revestiam de alto a baixo as paredes das igrejas e até mesmo o próprio teto. A Igreja de Marvila em Santarém e a Igreja de São Quintino, em Sobral do Montagraço, ambos em Portugal, são dois exemplos deste tipo de utilização do azulejo.

Segundo Cavalcanti e Cruz (2002, p.16) de 1630 a 1654, deu-se a ocupação de parte do Nordeste, pelos holandeses, mais precisamente em Pernambuco, onde houve a entrada de azulejos vindos da Holanda. Diferente das peças portuguesas, que não eram tão bem-acabadas nem tão detalhadas, essas traziam geralmente uma figura central ou apenas uma figura popular, tendo nos cantos desenhos de aranhiços, labirintos chineses, cabeças de boi estilizadas e flores-de-lis, além de apresentar dimensões ligeiramente maiores.


Já no Reinado de Dom Afonso VI (1656-1683), época em que desaparecem os últimos padrões policromados para tapetes dando lugar aos painéis figurativos e policromados e dos frontais de altar (adamascados, de brocado, de ramagens etc.).


No Reinado de Dom Pedro II (1683-1706) mudanças estéticas ocorrem por influência das porcelanas chinesas que rapidamente conquistaram o gosto europeu.


O azul-de-cobalto, substituindo a policromia dos azulejos, é empregado nas peças tendo bastante aceitação pelos holandeses que a partir de meados deste século, começam a aplicar tal coloração.


Almasqué e Veloso (http://www.oazulejo.net/oazulejo_frame.html) ressaltam que ao mesmo tempo, alastrava pela Europa a estética do barroco. Surge então o azulejo historiado, em que os personagens são captados em plena ação. Tudo isto coincide com a reconquista da independência de Portugal em 1640 e com o nascimento de uma nova aristocracia que rapidamente prospera. Os palácios passam a ser revestidos com painéis de azulejo representando batalhas, caçadas ou apenas cenas da vida cotidiana.


Nas escadarias e vestíbulos dos palácios mais abastados, surgem também as célebres figuras de convite que representam porteiros ou soldados armados. Já nas casas de recursos limitados, predominam as albarradas. Pela mesma altura, a figura avulsa, também de influência holandesa, ganha em Portugal uma expressão própria apesar do desenho de traço grosseiro e pouco cuidado.


            Mas foi, sobretudo, nas igrejas e nos conventos que o azulejo barroco adquiriu a monumentalidade que o imortalizou. Os exemplares espalhados por Portugal representam cenas do Velho e do Novo Testamento e contam episódios da vida dos santos, em séries de painéis como uma narrativa.


3.4 A arte do azulejo do século XVIII

Cavalcanti e Cruz (2002, p.17) comentam que no período artesanal (1690-1717/1720) destacam-se os mestres da pintura de azulejos portugueses como Antônio de Oliveira Bernardes (1600-1732) e Antônio Pereira. Inicia a fabricação de azulejos em azul e branco, de figura avulsa, painéis de vasos floridos, figuras de santos ex-votos, enquadramentos com faixas barrocas de folhas contorcidas, painéis retangulares. E, aparece o desenho em que participam elementos arquitetônicos, como cornijas, pilastras, colunas, capitéis, arquitraves, frontões, consolos, incorporando vãos reais.


A segunda metade do reinado de Dom João V (1725-1750), conforme Almasqué e Veloso (http://www.oazulejo.net/oazulejo_frame.html), foi o período de ampla produção. Bartolomeu Antunes (1688-1763) foi o grande produtor de azulejos da época. É neste período que se exportam para o Brasil as mais belas e perfeitas composições portuguesas. Após a morte de D. João V e já no consulado do Marquês de Pombal, a azulejaria decorativa passou a ser influenciada pela estética "rocaille" (rococó). Desaparecem então as exuberâncias decorativas do período anterior, há um regresso do policromatismo com uma paleta de quatro cores e passa-se a exibir as asas de morcego e formas mais orgânicas como os concheados assimétricos, típicos do estilo Luis XV. Na Fábrica do Rato, fundada em 1764, foram produzidos alguns dos exemplares deste período.


Mas a época pombalina ficou igualmente marcada por um tipo de azulejaria utilitária que surgiu após o Terramoto de 1755. Durante a reconstrução da cidade, o Marquês de Pombal incentivou a produção de azulejos, que constituíam material funcional, barato, higiênico e resistente.


Sobretudo depois do Terramoto proliferaram em todo o País, e particularmente em Lisboa, os registos de santos, pequenos painéis devocionais que eram colocados nas fachadas com o objetivo de obter proteção contra as catástrofes.


            A partir de 1760, no reinado de Dom José (1750-1777) a tendência é para uma decoração abstrata e regressa-se ao cromatismo, conforme Cavalcanti e Cruz (2002). O desenho das molduras evolui para o rococó. A paleta cromática acrescenta as cores amarela, verde, roxa, azul.

            Mas cerca de 1780, já em pleno reinado de D. Maria I, surge o estilo neoclássico. O azulejo português aderiu aos enquadramentos retilíneos e aos elementos decorativos polícromos em que predominavam os florões, as grinaldas, as plumas, os laços, as fitas ondulantes e os medalhões com paisagens. O "estilo D. Maria", como ficou conhecido em Portugal, durou até ao princípio do século XIX.


            No Brasil, para onde desde o século XVII eram enviadas grandes quantidades de azulejos portugueses, a azulejaria vai passar a ter uma utilização diferente com o revestimento das fachadas. A partir de meados do século XIX, esta prática estendeu-se a Portugal, trazida pelos emigrantes que regressavam às suas terras.


3.5 A arte do azulejo do século XIX e XX


Cavalcanti e Cruz (2002, p.18 e 19) comentam:

O século XIX foi uma forja das experiências mais variadas. Por um lado, o neoclassicismo, todo acadêmico e entregue às regras do passado, animado pelas descobertas obtidas nas escavações de Herculano (1711) e Pompéia (1748); a revelação da arte egípcia feita pelos especialistas que acompanharam a campanha napoleônica no país dos faraós (1798-1799). Por outro lado, o que se costuma chamar "historicismo", constituído por retornos denominados neobizantino, neo-românico, neogótico; o ecletismo procurando uma unidade difícil de encontrar entre os vários estilos; o romantismo pregando a luta contra as regras tradicionais. No último decênio do século XIX, despontaram ainda novos movimentos artísticos, a art nouveau e a art déco, que deixaram traços em todo o mundo, inclusive nos azulejos.


A partir de 1822, continuou-se, no Brasil, a empregar azulejos. Depois de cerca de vinte anos de interrupção da exportação, Portugal retomou a posição de grande fornecedor de azulejos até a Primeira Guerra Mundial. Contudo, mesmo antes da Independência do Brasil, os construtores de edifícios recorreram aos mercados fornecedores europeus para obtenção daquele material. Razão pela qual há no Brasil, azulejos holandeses, franceses, ingleses e alemães.


Em 1861 na província do Rio de Janeiro, no Brasil, iniciou-se a produção de azulejos com Pedro Antônio Survillo & Cia., porém, não teve êxito.


Em Portugal, graças ao impulso dado à indústria pelo Marquês de Pombal, o fabrico de azulejo iniciado em oficinas portuguesas teve a primeira linha de produção na Fábrica Real do Rato (Lisboa), que funcionou até 1836. Surgiram outras como Juncal (desde 1775); Sacavém (1856); Massarelos (Porto), que produziu azulejos em relevo; Carvalhinho (1853); Santo Antônio da Piedade, no Porto; Devezas (1865), em Gaia; e Bordallo Pinheiro (1884), em Caldas da Rainha.


A produção de alisares e painéis pintados à mão, na primeira metade do século XIX, foi realizada dentro do estilo neoclássico, mantendo-se a paleta de cores que compreendia o amarelado, o verde, o azul e o roxo com tonalidades leves. Os azulejos de figura avulsa continuaram sendo feitos dentro da técnica artesanal da maiólica. Na segunda metade do século, a industrialização começou a penetrar nos centros produtores, dando aos azulejos avulsos maior expansão.


Para a decoração destes, deram-se diferentes formas e expressão aos protótipos de Delft, usando novas tonalidades de azul e criando-se cantos de estrelinhas, ou de pétalas de ligação, e colocando, no centro, figuras populares nacionais. A produção de painéis, no entanto, foi comedida.


Segundo Cavalcanti e Cruz (2002, p.20) Continuou-se a executar azulejos estaníferos pelo método antigo ou lhe dando decoração mais simplificada e cores menos vivas. A execução de peças por prensagem de molde teve lugar na fábrica de Massarelos e em Vila Nova de Gaia.


As oficinas de Devezas e Santo Antônio (Porto) abasteceram o mercado brasileiro de peças decorativas de faiança branca e policromada (figuras mitológicas, balaústres, pináculos, leões, vasos, urans etc.). Ainda hoje se podem admirar, no Brasil, esses trabalhos coloridos e esmaltados decorando jardins e pátios.


Algumas cidades, brasileiras, como São Luís do Maranhão, Belém do Pará, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, apresentam ainda a fachada das casas de seus arruamentos revestida de azulejos portugueses inspirados nos motivos tradicionais ou em protótipos estrangeiros modificados. Os azulejos franceses também se encontram em muitos edifícios do Recife e de São Luís do Maranhão. Constituem, sobretudo, documentos históricos do século XIX.


Almasqué e Veloso (http://www.oazulejo.net/oazulejo_frame.html), ressaltam:


Nas primeiras décadas do século XX, o azulejo foi influenciado pela art nouveau que aparece nos trabalhos de Rafael Bordalo Pinheiro e em numerosos frontões e faixas decorativas produzidas nas fábricas de Sacavém, Desterro, Carvalhino e Fonte Nova. A art deco, que teve uma presença mais discreta na azulejaria portuguesa, foi predominantemente utilizada em vestíbulos, tabernas e num núcleo numeroso de fachadas em Vila Franca de Xira.

            A partir de 1950, os artistas plásticos portugueses começaram a interessar-se pela utilização do azulejo. Jorge Barradas foi considerado o renovador da cerâmica portuguesa e Keil do Amaral, nos contatos com os arquitetos brasileiros, redescobriu as potencialidades deste material de revestimento cerâmico. Outros destaques pela dimensão, bem como, pela qualidade da obra produzida, são Maria Keil, Manuel Cargaleiro, Querubim Lapa e Eduardo Nery. A azulejaria moderna portuguesa enriqueceu-se com alguns exemplares notáveis como os conjuntos de painéis da Av. Infante Santo e do Metropolitano, a fachada da Reitoria da Universidade e o painel da Av. Calouste Gulbenkian, todos em Lisboa.


Imagem 15 – Painel Avenida Infante Santo




            O azulejo português continuou, na segunda metade do século XX, sendo aplicado e reafirmando-se como uma das manifestações mais originais das artes decorativas europeias.

O próximo capítulo trará a biografia de Athos Bulcão - um gênio dos azulejos

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