quarta-feira, 14 de março de 2012

Beatriz Milhazes

O capítulo a seguir, é especial pois, Beatriz Milhazes é uma das minhas artistas inspiradoras. Me identifico nas cores bem como na utilização dos arabescos. A sobreposição hoje para mim tem sido um desafio ao qual estou inserindo aos poucos nas minhas obras. Começou com as "Pequenas Produções" (telas de 20cmx20cm) no final do ano passado e está integrada na série em andamento.



5 BIOGRAFIA DE BEATRIZ MILHAZES



Imagem 28 – Beatriz Milhazes





Pintora, gravadora, ilustradora e professora, Beatriz Milhazes nasceu no Rio de Janeiro, em 1960. Formada em comunicação social pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro em 1981. Iniciou nas artes plásticas ao ingressar na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage em 1980, onde mais tarde leciona e coordena atividades culturais. Cursou gravura em metal e linóleo no Atelier 78, com Solange Oliveira e Valério Rodrigues entre 1995 e 1996.

Beatriz Milhazes faz parte das exposições que caracterizam a Geração 80, grupo de artistas em contraposição à vertente conceitual dos anos 1970, cuja característica é a pesquisa de novas técnicas e materiais, enfim, novas possibilidades.

Em 1984 monta seu primeiro ateliê com os artistas Chico Cunha, Cristina Bahiense e Ricardo Oliveira. Em 1987 muda-se para o ateliê em que trabalha até hoje, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro.

A partir dos anos 1990, destaca-se em mostras internacionais nos Estados Unidos e Europa e integra acervos de museus como o MoMa (The Museum of Moderm Art), Guggenheim e Metropolitan em Nova York.

Sua obra faz referências ao barroco, à abstração e à figuração. Para Beatriz Milhazes o barroco oferece formas exuberantes, sistemas de cores, ritmos visuais dinâmicos, suntuosidade, exuberância e política da forma.

Em 1993 a artista estava imersa na cultura hispânica. Em decorrência disso, aparecem em suas telas iconografias católicas e desenhos de detalhes de arquitetura sacra, além de representações de trajes femininos, babados, rosas e rendas.

O fascínio pelo carnaval do Rio de Janeiro também é demonstrado em seu trabalho através da profusão de formas e da suntuosidade visual.

Suas inspirações são baseadas na obra de Tarsila do Amaral, Burle Marx, Henri Matisse, Pablo Picasso, à padrões ornamentais e à art deco, entre outras.




a artista revela, desde o início da carreira, a vontade de enfrentar a pintura como fato decorativo, aproximando-se da obra de artistas como Henri Matisse (1869-1954). Interessa-se pela profusão da ornamentação barroca, sobretudo pelo ritmo dos arabescos e pelos motivos ornamentais presentes na obra de Guignard (1896-1962).



Beatriz Milhazes até 1996 se concentrou na pintura, com raras incursões na escultura e na gravura. No entanto, a artista escolheu a serigrafia, com sua matriz industrial e linguagem pop. Milhazes produz suas gravuras na Durham Press, sob a direção de Jean-Paul Russel.

Entre 1997 e 1998, é artista visitante em várias universidades dos Estados Unidos.

Beatriz Milhazes faz a cenografia (Imagem 29) dos espetáculos de sua irmã, Márcia Milhazes, uma das principais coreógrafas de dança contemporânea brasileira. Executou projetos em variados circuitos como o desenho de um cartaz para a Copa do Mundo de Futebol na Alemanha (Imagem 30), a capa do álbum Universo ao meu redor de Marisa Monte (Imagem 31) e a ilustração do livro As Mil e Uma Noites à Luz do Dia: Sherazade Conta Histórias Árabes, de Katia Canton (Imagem 32). Foi convidada ainda, para fazer uma bandeira para o MoMa dando início às intervenções em fachadas de prédios. Deste momento em diante, o espaço público se abriu como um novo campo.



Imagem 29 – Cenografia espetáculo dança contemporânea




Fonte: http://historiadoteatroufpel.blogspot.com/2011/04/beleza.html



Imagem 30 – Composição para a Copa da Alemanha







Imagem 31 - Capa do álbum Universo ao meu redor






Imagem: 32 - Livro As Mil e Uma Noites à Luz do Dia: Sherazade Conta Histórias Árabes




Fonte: http://www.crisdias.com/s/46507/as-1001-noites-a-luz-do-dia-sherazade-conta-historias-arabes.html



Mas quando é questionada sobre seu estilo Beatriz Milhazes (2008, p.99) diz:



...Não tenho compromissos com nenhum estilo ou movimento (aliás, como todos da minha geração), tenho apenas compromissos com meu próprio trabalho. Sinto-me com total liberdade de visitar Malevich, P. Klee, Picasso, Gris e Matisse, sem constrangimentos.



Contudo, Milhazes se define como uma artista abstrata. Talvez uma abstração similar à praticada por Kandinsky nos anos 1920, composta de motivos, pois, contém elementos estilizados do real.



5.1 Processo Criativo



O trabalho de Beatriz Milhazes apresenta uma arte contemporânea original, tendo criado um vocabulário plástico próprio com superfícies compostas por planos e formas orgânicas coloridas, vibrantes e justapostas onde fundo e figura se fundem, demonstrando um gosto pelo decorativo, pelo ornamento. Uma verdadeira profusão.

Ao planejar suas gravuras, Beatriz Milhazes pode atuar em etapas, e assim planejar as várias camadas no decorrer de seu trabalho. Porém, o processo criativo de Milhazes torna-se lento em decorrência da técnica de aplicação dos decalques e da precisão necessária para a aplicação dos mesmos. Os motivos precisam de quatro demãos de tinta, se não a película fica fina demais para ser transferida. Dependendo da umidade do ar, cada decalque precisa secar por um dia depois de pintado e por mais um dia depois de colado. Antes de transferir as imagens, um artifício utilizado a seu favor são tachas que usa para fixar os decalques possibilitando uma visualização antes da fixação.

Para Beatriz, “Cada tela tem o seu tempo de vir a ficar completa e é importante respeitar isto”. (HERKENHOFF, 2007, p.198)

Após estabelecer um método ela apresenta múltiplas imagens que se movem, dentro de repetições e mudanças cromáticas infinitas. A tendência na organização de formas e cores é sempre buscar o equilíbrio.



5.2 Iconografia



Dentre os ícones apresentados constata-se uma produção diretamente relacionada em torno da paisagem, da flora e da fauna tropicais, dos territórios do feminino, das tradições artísticas locais e das expressões populares e religiosas.

Motivos de flores, contas e laços retratam o universo feminino fazendo referência ao ornamento, ao vestuário e à decoração.


Imagem 33 – O príncipe real, 1996






As estruturas circulares utilizadas por Beatriz Milhazes, e aí o seu interesse pela Op Art, podem causar um distúrbio ao olho, pois, sua pintura tem vários centros ao invés de se ter somente um centro. Isto faz com que o olhar percorra a tela por inteiro e por diversas vezes.


Imagem 34 – Noite de verão, 2006



Fonte: http://www.fortesvilaca.com.br/artista/beatriz-milhazes/foto-3.html



Por meio das leituras realizadas, constata-se que Milhazes passa a utilizar arabescos em suas telas a partir de 1989.

A tela Havaí é uma verdadeira demonstração dos diversos formatos de arabescos existentes.



Imagem 35 – Havaí, 2003







Fazendo referência a alguns artistas, Herkenhof (2007, p.86)  afirma:



Os arabescos de A infanta movem corpos, como A dança de Matisse. Os gestos de A infanta buscam a mesma amplitude e tempo. A reconciliação entre os signos do homem e da natureza. A cor dança, como nos parangolés de Oiticica. Também o olhar dança.



             As listras são outra característica nas obras da artista em que ora produzem leituras verticais ora horizontais.


Imagem 36 – O elefante azul, 2002



Fonte: http://www.maxhetzler.com/1035.0.html?&tx_hetzlergallery_pi1%5Bartist_uid%5D=16&tx_hetzlergallery_pi1%5Bexhibition_uid%5D=102&tx_hetzlergallery_pi1%5Bmodus%5D=zoom&cHash=dba87a476e



O quadrado é considerado um de seus formatos preferidos por ser o mais neutro, não impõe verticalidade ou horizontalidade, como ocorre com as listras por exemplo. Contudo, o círculo ocupa lugar de destaque por manter o olhar em constante movimento. Juntando as duas preferências, um círculo dentro de um quadrado representa uma verdadeira obra de Beatriz Milhazes.

A artista tem atração por enfrentar problemas pictóricos, por isso, as mudanças na iconografia (arabescos, corações, estrelas, espirais, flores etc) de Milhazes ocorrem de maneira gradual.

Enfim, a obra de Beatriz Milhazes, segundo Adriano Pedrosa (http://www.itaucultural.com.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_criticas&cd_verbete=573&cd_item=15&cd_idioma=28555) percorre, “... do símbolo da paz à joalheria de Miriam Haskell, dos padrões de tecido de Emilio Pucci ao design paisagístico de Burle Marx, do chitão às alegorias de carnaval, dos ornamentos arquitetônicos art déco às geometrias de Bridget Riley.”





5.3 Cor



Os efeitos visuais nas obras de Beatriz Milhazes se destacam tanto em sobreposições quanto na cor.

A artista tem como característica a utilização de cores puras e chapadas, fortes e vibrantes trazendo a alegria ao seu trabalho.

Por conta disso, os monocromos utilizados em algumas obras não significam para Milhazes que só existirá aquela cor, mas sua prevalência sobre o conjunto. Exemplo da imagem abaixo


Imagem 37 – O cravo e a rosa, 2000


Fonte: http://www.bwcitypaper.com/Articles-i-2001-07-19-28376.111115-Brazilian-Beauty.html


            A única tela em que utiliza o preto é Mundo civilizado (1998). Os ‘pretos’ são sempre púrpuras, verdes, azuis profundos que na mistura com outras cores possibilita uma visão de ótica onde o espectador enxerga preto.


Imagem 38 – Mundo civilizado, 1998



Fonte: http://www.mutualart.com/Artwork/Mundo-civilizado/21D6C8AAF2F75284


Para a artista cor da carne e bege são consideradas as piores cores do mundo.

O branco também quase não é utilizado a não ser como uma cor-rizoma. Ou ainda, nas veladuras de uma demão apenas.

Milhazes afirma: “Sem a cor, a imagem não acontece. Quando a sinfonia das cores não funciona, a sedução acaba.” (Beatriz Milhazes, 2008, p.15)



Imagem 39 – Cabeça de mulher, 1996



Fonte: http://grupoceroversob.blogspot.com/2009_01_01_archive.html


5.4 Técnica

Em Beatriz Milhazes: pintura, colagem (2008) a partir de 1989, a artista introduz um novo procedimento em seus trabalhos com a monotipia, aplicando tinta acrílica sobre folhas de plástico e transferindo o resultado para telas, como se fosse um decalque.

Neste método, as imagens são pintadas sobre plástico transparente na forma inversa em que serão impressas na tela, controlando a espessura da matéria pictórica. Depois o plástico é removido como se fosse um decalque. Não se cola o que se transfere é a película de tinta. E assim inúmeras sobreposições acontecem numa única tela mantendo a superfície lisa.

Porém, entre 1989 e 1995, os motivos eram fixados com cola PVA branca misturada com pigmento ocre. A secagem era lenta e o pigmento deixava um sombreado por trás dos decalques, dando um ar de envelhecimento e dificultando o uso de formas com traços mais finos. Em 1995, após uma conversa com os restauradores do Carnegie Museum of Art de Pittsburgh, a artista adotou o meio acrílico transparente. O novo adesivo mudou o aspecto das telas, uma vez que as cores ficaram mais brilhantes, o resultado ficou mais límpido e tornaram-se visíveis linhas que antes ficavam apagadas pelo pigmento ocre.

Ou seja, a partir de 1989, de certa forma, toda a obra de Beatriz Milhazes é colagem. Desde as pinturas com decalque até as composições feitas com invólucros de balas e chocolates, passando pelas múltiplas camadas aplicadas nas serigrafias e os adesivos de vinil utilizados nas obras públicas.



O capítulo seguinte apresentará a atividade prática desenvolvida com base na pesquisa apresentada até o momento.

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